terça-feira, 18 de agosto de 2020

Reinventar Processos Educativos: Reflexões e Ações Futuras



REINVENTAR PROCESSOS EDUCATIVOS: REFLEXÕES E AÇÕES FUTURAS

1. CONTEXTUALIZAÇÃO

Este documento surge no âmbito de um espaço de reflexão proporcionado pela ANIMAR – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local, associação que integra um conjunto de  organizações da Economia Social e Solidária, especificamente o Grupo de Trabalho Educação, Cidadania e Igualdade, no quadro MANIFesta – Assembleia, Feira e Festa do Desenvolvimento Local.

Esse espaço de reflexão, inicialmente agendado para Outubro de 2020 foi, devido aos condicionalismos de saúde pública atuais, reagendado para a primavera de 2021, na Covilhã, constituindo o encontro bienal de organizações da sociedade civil promovido pela Rede ANIMAR, em parceria com outras organizações nacionais congéneres e que, nesta edição, se foca na temática “Construir Comunidades Justas e Sustentáveis”, realizando vários debates regionais e nacionais em torno do tema.

Face à atual pandemia, os debates temáticos estão a decorrer em formato de webinário e visam, simultaneamente, aprofundar a reflexão da sociedade civil e construir, de forma participada, contributos para políticas públicas locais, regionais e nacionais que, através de medidas concretas, promovam uma efetiva mudança social em torno dos quatro eixos da MANIFesta: território, igualdade, ecologia e
democracia.

É neste contexto que foi organizada, no dia 14 de julho de 2020, uma videoconferência denominada “Reinventar os Processos Educativos depois da Pandemia”, que contou com contributos muito relevantes de várias partes interessadas na temática em discussão: educadores/as e professores/as dos mais diversos níveis de ensino, de investigadores/as, representantes de organizações de pais, de entidades da sociedade civil (Associações, Organizações Não Governamentais e Cooperativas, entre outras) e de pessoas individuais com interesse na matéria.

Decorrente do enriquecedor debate criado nesta iniciativa, deu-se continuidade ao mesmo, no dia 27 de julho, com o objetivo de se refletir em mudanças que se consideram necessárias no sistema de ensino em Portugal.


2. QUESTÕES DE PARTIDA

Neste momento, em que as escolas preparam o próximo ano letivo tendo que prever três cenários diferentes (presencial, misto e a distância), face aos condicionalismos das medidas de saúde pública derivadas da pandemia COVID-19, surgem-nos várias inquietações:
  • O papel do/a professor/a pode manter-se igual, face às mudanças e exigências atuais?
  • O ensino-aprendizagem pode continuar refém de uma preocupação exclusiva em cumprir conteúdos e planificações?
  • A tecnologia vai servir que práticas e processos de ensino-aprendizagem?
  • A aprendizagem dos alunos e alunas pode continuar cativa de uma dinâmica pedagógica definida pelo/a professor/a, ensinando do mesmo modo, ao mesmo tempo, a grupos heterogéneos?
  • A aula, enquanto unidade de tempo organizacional do trabalho pedagógico, oferece as condições de ensino-aprendizagem e interpessoais para a promoção da autonomia, cooperação, desenvolvimento pessoal, social e emocional das crianças e adolescentes?
  • A aula, enquanto unidade de espaço, oferece as condições físicas para um efetivo plano de saúde pública, de distanciamento físico? Será o único espaço possível de ensino-aprendizagem? Ou poderá o ensino-aprendizagem sair das “quatro paredes” e acontecer em espaços naturais, culturais, comunitários?
  • O Sistema Educativo chega a todos e a todas? Garantindo que sim, como sabemos que todos e todas têm as mesmas condições para a aprendizagem?
  • Que relação, papel e participação quer a escola atribuir às famílias?
  • Pensar na comunidade educativa limitada a professores/as, auxiliares e alunas/os é redutor: que outra comunidade educativa e de aprendizagem seria essencial ativar na educação de hoje? 

3. MOTIVAÇÕES

PORQUE:
  • Acreditamos na escola pública e no trabalho de quem em prol dela age;
  • Acreditamos nos/as professores/as e em todos/as os/as profissionais educativos e na sua capacidade e entrega em prol da educação;
  • Acreditamos em processos de aprendizagem comunitária, ancorados nos territórios, na família e na capacitação entre pares,
Sugerimos as seguintes pistas de consolidação de processos de mudança:

1) TRANSITAR GRADUALMENTE
Iniciar o ano letivo de modo tranquilo para toda a comunidade educativa (professores, estudantes e famílias), assegurando tempo para reforço dos relacionamentos (e não só), para a recuperação e consolidação das aprendizagens.

2) APOIAR OS/AS PROFESSORES/AS
Em qualquer que seja o cenário educativo possível (presencial, à distância ou misto), a motivação do corpo docente é essencial para responder às atuais circunstâncias desafiadoras. Reconhecer, apoiar física e psicologicamente limitando os níveis de exaustão e investir na orientação especializada para os preparar para cenários de crise e incerteza.

ENVOLVER AS FAMÍLIAS E COMUNIDADES. Uma das principais lições da pandemia foi o destaque do envolvimento das famílias e comunidades no processo de aprendizagem das alunas e alunos.

3) PLANEAR A REABERTURA DAS ESCOLAS DE FORMA MAIS COLETIVA E ABERTA À COMUNIDADE
Efetuar este planeamento com base no “Plano de Ação e Recomendações para a Reabertura de Escolas” (1) que evidencia o porquê de reabrir as escolas, destacando 6 dimensões a considerar: (a) Políticas públicas; (2) Financiamento; (3) Segurança das Operações; (4) Aprendizagem; (5) Inclusão dos mais vulneráveis; e (6) Bem-Estar e Proteção das Pessoas.

4) RECONFIGURAR ESPAÇOS E TEMPOS DE APRENDIZAGEM
A alteração da configuração da sala de aula é urgente para que possa dar lugar a uma aprendizagem significativa, autónoma e diferenciada (ex. organização em U, aproveitamento dos espaços exteriores das escolas), para que possa dar lugar a uma Educação democrática e participativa, pilar fundamental norteador da educação do futuro.

5) PROJETAR O ESPAÇO DE APRENDIZAGEM DA ESCOLA NA RELAÇÃO DA MESMA COM AS COMUNIDADES E TERRITÓRIOS
O espaço democrático e participativo em que se torna a escola engloba a sociedade envolvente, numa infusão de saberes e de viveres em que todos os atores, pessoas e instituições da comunidade têm o seu papel. Podem ser “chão de escola” todos os espaços significativos distintos, tal como a natureza, o familiar, o coletivo, o comunitário, o cultural ou o desportivo desde que potenciem a aprendizagem.

6) RESSIGNIFICAR O QUE É UM/A PROFESSOR/A
Se queremos crianças e jovens preparados para um futuro que se prevê imprevisível, se queremos crianças e jovens criativos/as, flexíveis, com capacidade para se relacionarem, com capacidade para encontrarem soluções, com capacidade para trabalharem coletivamente, aproveitando o melhor de cada um/a, precisamos também de mudar o paradigma do que é um/a professor/a. E é fundamental que nesta ressignificação se reforce a importância de trabalhar, dentro do espaço escolar, o Saber Ser, o Saber Estar, o Bem-Estar Emocional e Mental.

7) EDUCAR EM COMUNIDADES DE APRENDIZAGEM. Acreditamos no desejo e capacidade, de todos e todas as intervenientes do processo de aprendizagem, na transformação e ressignificação da escola, como coração palpitante de comunidades adaptáveis às mudanças atuais, comunidades sustentáveis e felizes. Acreditamos numa escola para todas as pessoas, que não deixa ninguém para trás. Uma escola na, com e a partir da comunidade, desenvolvendo e potenciando o seu território. Uma verdadeira comunidade de aprendizagem.

8) TRABALHAR EM REDE
Entre vários intervenientes, desde as redes de interação entre alunos/as, numa clara mentoria entre pares, aos professores e professoras, às redes criadas entre os diversos membros das comunidades educativas, às estabelecidas entre a comunidade escolar e a família e as que envolvem todos estes intervenientes e a comunidade onde a escola pertence.

Se o recurso à tecnologia, como facilitador, permitiu a reconfiguração da modalidade educativa, a constituição destes grupos informais abriu caminho para o desenho ou para a construção de mais uma estratégia pedagógica.

9) ANCORAR PROCESSOS DE MENTORIA
Manutenção das comunidades de prática informais e/ou espontâneas constituídas entre alunos/as e professores/as, redirecionando os seus objetivos e transformando-as numa estratégia de ensino-aprendizagem a que se pode recorrer quer no ensino presencial, à distância ou misto.

10) REFORÇAR A TUTORIA
Generalização da prática de tutoria, a partir das necessidades, interesses e potenciais dos alunos e alunas, desenvolvidos através de roteiros de estudo, pesquisas, projetos, promovendo a auto-regulação das aprendizagens, autonomia, diferenciação - e onde o professor/a-tutor/a se torna um/a facilitador/a de conhecimento e de mediação do processo de aprendizagem.

11) AUTONOMIZAR AS ESCOLAS
Centrar as políticas educativas também na valorização dos processos educativos territorializados e comunitariamente partilhados, não enfatizando os resultados nacionalmente parametrizados como
critérios exclusivos de avaliação da aprendizagem.


4. PROPOSTA

Este coletivo disponibiliza-se, a partir de setembro, a encetar um processo piloto de:
i) auscultação a Agrupamentos de Escolas e à Sociedade Civil Educadora; e
ii) apoio à implementação de processos de mudança e sua monitorização.

O coletivo de organizações e de pessoas que subscreve este documento considera que as Direções de Agrupamentos, Escolas e o Poder Local têm um papel decisivo na mudança dos processos educativos atuais para as competências de futuro e que as associações da sociedade civil também podem contribuir de forma mais ativa para essa mudança.

Assim, é intenção apoiar estas estruturas na transição sugerida, nomeadamente:
  1. Apoiar o processo piloto acima descrito;
  2. Dar o feedback dessa auscultação aos Agrupamentos de Escola, Escolas não Agrupadas, Poder Local, à sociedade civil em geral e a todos os atores que tenham por foco a Educação;
  3. Apoiar o desenho e a implementação de intervenções, com base nos resultados da consulta, que respondam às preocupações dos intervenientes, contribuindo efetivamente para uma educação transformadora.
Para finalizar, reforçamos a importância de uma governação participativa no reinventar dos processos educativos. Para tal, serão necessários líderes com coragem e determinação para avançar com a transformação da educação em torno de um modelo mais democrático, mais participativo e mais cooperativo entre todos os intervenientes no processo educativo.

A transformação envolve não só a educação formal como também a não formal e a informal, simultaneamente aprendizagem socioemocional e cognitiva e educação comunitária e cidadania.

EDS - Educação para o Desenvolvimento Sustentável em ação é basicamente cidadania em ação. Evoca perspetiva de aprendizagem ao longo da vida, tomando como lugar não apenas a escola, mas também ambientes fora da escola, ao longo da vida de cada indivíduo. Baseado em direitos humanos e princípios como participação, não discriminação e prestação de contas, que interage com o meio
social e cultural da comunidade e estimula a aprendizagem social dentro dela. A identidade cultural pode desempenhar um papel importante. Para se relacionar mais estreitamente com as comunidades, as escolas devem ter mais autonomia na implementação da estrutura curricular e na gestão das suas atividades diárias. A EDS em ação, portanto, requer uma nova perspetiva sobre os papéis e funções das escolas.
Fonte: UNESCO. General Conference, 40th, 2019 disponível aqui.

ASSOCIE-SE E SUBSCREVA
Este documento reflete sobre algumas inquietações e demonstra a disponibilidade de entidades da sociedade civil em participarem mais ativamente na mudança das práticas educativas dos seus territórios.

Para além de vir a ser partilhado com o Ministério da Educação, pretende sobretudo chegar a Direções de Escolas e de Agrupamentos Escolares e também ao Poder Local, para que essa mudança seja feita desde a base.

Para tal, é necessário que o documento ganhe "força" e seja subscrito por um conjunto alargado de pessoas e organizações. Assim, convidamos à sua subscrição, aqui:



ENTIDADES SUBSCRITORAS DE BASE:

OUTROS CONTRIBUTOS:
EDUCAR ADIANTE - documento de reflexão, contributo e convite à co-construção da educação e da escola na era COVID-19 (parceria THE K-EVOLUTION e FAREDUCA)


Para mais informações, contacte-nos ou diretamente a ANIMAR.

terça-feira, 11 de agosto de 2020

A FAREDUCA celebra hoje 10 anos. É uma 'data redonda' que nos lembra como e porquê começámos. A razão (e missão) ainda hoje se inscreve na nossa frase-chave: Educar para o Futuro Hoje! A matéria (que trabalhamos) é o nosso sobrenome: 'Educação para a Sustentabilidade'.

Ao longo destes 10 anos fizemos muita coisa: muitos projetos, ações, iniciativas, materiais e imateriais. Fizémos também muitos amigos, colaborando com diversos públicos, variadas instituições e reunindo um conjunto de parceiros de que hoje muito nos orgulhamos.

Tudo isto está patente na página 'o que fazemos' do nosso blogue, pela qual vos convidamos a navegar à vontade, seguindo os links associados às diferentes iniciativas/ projetos (os inativos traduzem fases de planificação, desenvolvimento ou reformulação).

Celebramos com todos vós e a todos agradecemos de coração estes 10 anos de caminho feito e a possibilidade de continuar bem acompanhado na senda da tão preciosa aventura de crescer, aprender, mudar e melhorar. A nós mesmos, ao espaço seguro nos nossos círculos - e ao grande círculo que segura todo o espaço. Esse incomensurável espaço comum onde, inexoravelmente juntos, nos co-criamos e reinventamos a cada momento, (a)o ritmo da vida.

Pela FAREDUCA,
Rita Fouto